Relicário principal de Santa Valdetrudis, princesa, abadessa e fundadora de Mons, Bélgica |
Luis Dufaur
Escritor, jornalista,
conferencista de política internacional, sócio do IPCO, webmaster de diversos blogs |
Na cidade de Mons, na Bélgica, todos os anos o relicário de Santa Waldetrudis (612-688), princesa fundadora da cidade, desce solenemente do altar, no sábado anterior à festa da Santíssima Trindade.
O reitor da Basílica o confia ao burgomestre (prefeito), responsável pela segurança do relicário durante a procissão pelas ruas da cidade nos dias seguintes, sobre um carro de ouro. No fim, voltam à Basílica, onde acontece a restituição.
No vídeo vemos, junto com sua abadessa, as religiosas cuja congregação foi fundada pela santa. Depois vemos o clero carregando as urnas com as relíquias, bispos e guardas suíços armados vestindo uniformes típicos do século XVI. Por fim, vêm o prefeito, vereadores e diversas autoridades, enquanto o povo entoa um cântico especial em honra da santa.
Santa Waldetrudis é também conhecida como Santa Waudru de Mons, Waldetrude ou Santa Waudru. Na Holanda seu nome é sint Waldetrudis (ou sint Waltrudis), sendo ela padroeira da cidade de Herentals, onde lhe é dedicada a imensa igreja principal de Sint-Waldetrudiskerk (“Igreja de Santa-Waudru”).
Sua festa é comemorada em 9 de abril, e também em 4 de fevereiro.
A santa nasceu numa família da alta nobreza francesa. Seu pai, Walberto, foi mestre de palácio do rei Clotário II; sua mãe, Bertila, foi filha do rei de Turíngia Raul I.
Descida das relíquias de Santa Waldetrudis |
Ela casou com Maldegário, conde de Hainaut, poderoso senhor feudal, e tiveram quatro filhos.
Tendo completado a educação dos filhos, seu esposo se retirou à abadia de Hautmont, que ele próprio havia fundado, como simples frade, adotando o nome de Vicente.
Por sua vez, Santa Waldetrudis, aconselhada por seu confessor São Ghislain, fundou um oratório sobre um morro (o Mons). Em torno desse oratório se desenvolveu uma abadia beneditina, em torno da qual cresceu uma cidade que leva o nome de Mons, no reino da Bélgica.
A abadia de Santa Waldetrudis era para mulheres da nobreza, tendo sido por isso reconhecida no século XII como capítulo nobre feminino, e as freiras eram tratadas como cônegas. No vídeo vemos umas meninas pajens, carregando a cauda das religiosas como se fossem princesas.
Urna com o crâneo de Santa Valdetrudis |
No vídeo nós vemos a manifestação de uma sociedade bem organizada. As religiosas nobres com suas meninas assistentes e a abadessa portando o báculo precedem o cortejo das relíquias da fundadora.
Depois segue o clero em seus diversos graus: cônegos, monsenhores e bispos. Depois os dois belíssimos relicários, carregados por associações de fiéis.
Por fim, o prefeito, vereadores, autoridades e populares. Tudo isso forte e nobremente custodiado por soldados em grande uniforme.
À medida que o solene cortejo procede ouvem-se timbales, trompetes “tebanas”, enquanto o grande órgão do santuário executa o Trumpet Voluntary.
O prefeito e os vereadores são recebidos na porta do santuário pelo reitor e pelos presidentes da “Fabrique d’Eglise de Sainte-Waudru” (a confraria que construiu a basílica na Idade Média e ainda hoje cuida de sua manutenção e restauração) e da “Procession du Car d’Or” (a confraria que vai conduzir as relíquias pelas ruas, sobre o Carro de Ouro).
Antes de sair do santuário, as relíquias são conduzidas solenemente (cena que o vídeo focaliza) até o transepto da igreja, onde elas são veneradas e incensadas.
O reitor então relembra a vida da santa e a história do capítulo nobre das cônegas e, voltando-se para o prefeito, diz :
E o Prefeito responde:
“Senhor Burgomestre, senhoras e senhores vereadores:
“Eis que procedemos à descida do corpo santo da Senhora Santa Waldetrudis, com a intenção de levá-lo em procissão pela cidade. Nós vos rogamos e pedimos, aqui mesmo, a garantia de sua segurança, a fim de que mal ou inconveniente algum aconteça na cidade, e que vigieis a fim de que ele seja trazido de volta neste local são e salvo, no mesmo estado que vos é entregue e confiado à vossa lei e poder.”
“Senhor Reitor, senhores,
“Nós atendemos ao vosso convite e bem ouvimos e entendemos vosso pedido. Nós aceitamos com todo gosto a guarda do corpo santo da Senhora Santa Waudru, e após ele sair desta igreja até seu retorno, nós cumpriremos nossa leal tarefa de protegê-lo, guardá-lo, sem custos nem despesas, para que não corra perigo algum em toda a cidade”.
Tão logo o cortejo oficial sai do coro e do transepto da igreja, os fiéis acodem em grande número para venerar as relíquias da Senhora Santa Waudru, tocando o relicário com uma medalha, cruz, ou terço, ficando assim relíquia indireta da santa e que eles podem levar às suas casas..
Carro de Ouro com o relicário da Santa. É levado em procissão pelas ruas de Mons. |
Quando o Carro de Ouro chega à Rampa de Santa Waldetrudis (Rampe Sainte-Waudru), os cavalos ficam insuficientes para puxar seu imenso peso. Então centenas de pessoas passam a puxá-lo ladeira acima.
É fato admitido que quando o Carro de Ouro não consegue subir essa ladeira, grandes infortúnios estão para vir. De fato, assim aconteceu em 1803, por ocasião da invasão da soldadesca da Revolução Francesa, e nos anos de 1914 e 1940, quando a Bélgica entrou na Primeira e na Segunda Guerra Mundial.
Após as festividades, as autoridades municipais devolvem os relicários ao clero da Basílica, que os repõe no altar. Esta última cerimônia é conhecida como a subida do relicário.
Vídeo: Descida das relíquias de Santa Waldetrudis, padroeira de Mons, Bélgica
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