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domingo, 29 de dezembro de 2024

Santo Natal e Feliz Ano Novo !

Luis Dufaur
Escritor, jornalista,
conferencista de
política internacional,
sócio do IPCO,
webmaster de
diversos blogs





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quarta-feira, 18 de dezembro de 2024

Os pastores de Belém – conto de natal

Anúncio aos pastores. Universidade de Califórnia-Berkeley UCB029
Anúncio aos pastores. Universidade de Califórnia-Berkeley UCB029
Luis Dufaur
Escritor, jornalista,
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Naquela noite misteriosa, encoberta de nuvens, um grupo de pastores tinham uma diferente sensação de tranquilidade interna em suas almas.

Algo estava para acontecer, mas nenhum deles ousava exprimir aos outros aquilo que pensavam ser um sentimento meramente pessoal.

Sentados em roda, conversavam sobre a chuva que poderia cair durante a madrugada e o cuidado redobrado que teriam para cuidar de suas ovelhas.

Mas aquela noite misteriosa parecia que desejava revelar-lhes um segredo e à medida que o tempo passava uma mistura de temor e alegria os inundava cada vez mais.

Embora externassem uns aos outros as preocupações com a chuva, suas atenções segundas estavam voltadas para aquela serena sensação interna, cheia de calma e alegria.

O silêncio, muitas vezes, é a atitude primeira da alma em face do mistério quando este se apresenta carregado de uma beleza inefável.

Todo mistério tem algo de obscuro como a noite. Quando obra da graça, esse obscuro é acompanhado por estrelas radiantes que fazem a alma entrever, apesar do escuro do mistério, a luz da verdade inatingível pela razão.

Se se trata de um mistério divino, esse obscuro não é culpa do mistério, mas da razão humana que é finita e incapaz de abarcar tudo aquilo que Deus revela.

E Deus deu a alma humana uma sede misteriosa pelo mistério. Tanto que quando o homem, por um ato de revolta, nega os divinos mistérios sobrenaturais e os julga como contrários a sua razão – tão pequena, aliás, e tão debilitada pelo pecado original; minúscula como um grão de poeira se comparada com o tamanho do universo – a alma do homem, assim turvada, se volta ainda assim para os mistérios, mas para as trevas misteriosas do preternatural, do esoterismo e do ateísmo.

Sim, nada mais sinistramente misterioso do que as trevas do ateísmo e nada é tão inexplicável à razão quanto a fé de seus adeptos.

Naquela noite, toda a natureza parecia sorrir para os pastores. Mas, como? Se era... noite? Durante a noite não se sente apenas medo e terror do perigo iminente e do sombrio das trevas que acobertam os ladrões e as feras?

Anúncio aos pastores. Free Library of Philadelphia, Rare Book Department
Anúncio aos pastores. Free Library of Philadelphia, Rare Book Department
Como era possível sentir aquela misteriosa sensação de calma, tranquilidade e paz? Havia realmente algo diferente. Um misterioso mistério perfumava aquela noite nos campos próximos à Belém.

Mas, entre os pastores, diversas eram as atitudes de alma que cada um tomava em face daquela sensação misteriosa que os invadia.

Uns percebiam que aquilo poderia significar que Deus interviria novamente no curso da História.

Lembravam-se dos profetas que anunciavam a vinda do Messias, da paganização que cobria a Terra, da história misteriosa e paradoxal de uma Virgem que havia concebido e das opressões que sofriam os fiéis às Leis de Deus naquela Jerusalém decadente.

Outros pastores apenas identificavam aquela sensação com uma esperança de que a chuva não viesse e assim pudessem ter uma noite mais tranquila.

Alguns outros, dentre eles, viam naquele sentimento algo que contrariava seu modo de vida libertino e desregrado.

Entregues às paixões desordenadas e à desordem temperamental que os vícios morais causavam, eles se achavam indignos daquele sentimento de alegria primaveril que, há tantos anos, haviam afogado na fanfarronice febricitante de uma vida onde a virtude não passava de uma palavra. A saudade desse período de inocência perdido os sensibilizava.

O tempo corria e a noite se firmava. A escuridão parecia pesar cada vez mais. Em certo momento, os pastores notaram que seus rebanhos estavam silenciosos como nunca antes estiveram. Os animais pareciam participar daquela sensação aprazível e serena de algo misterioso.

Quando menos esperavam, uma luz misteriosa apareceu. Tão forte e intensa que os cegou por instantes e não conseguiam abrir os olhos por mais que tentassem. O temor tomou conta de suas almas.

Segundos depois, a luz perdeu sua intensidade e eles então puderam ver um anjo pairando no ar. Mas a luz que emanava de seu interior ainda impedia que aqueles homens fixassem suas vistas naquele ser.

Adoração dos pastores. Giorgio Barbarelli da Castelfranco, dito Giorgione, por volta de 1500.
Adoração dos pastores. Giorgio Barbarelli da Castelfranco,
dito Giorgione, por volta de 1500.
Pela primeira vez eles sentiam-se impotentes e como que diante de algo que poderia lhes tirar a vida com um só ato de vontade. O temor aumentara.

“Não temais, eis que vos anuncio uma boa nova que será alegria para todo o povo: hoje vos nasceu na Cidade de Davi um Salvador, que é o Cristo Senhor”, disse-lhes o anjo num tom de voz que eles nunca antes haviam ouvido.

E o escuro do céu subitamente deu lugar a um coro do exército celeste, que louvava a Deus e dizia como num brado de guerra e ao mesmo tempo como num canto de vitória contra o demônio conspirador da perdição dos homens:

— “Glória a Deus no mais alto dos céus e na terra paz aos homens, objetos da benevolência divina”.

Todos olhavam para o firmamento e contemplavam aquele espetáculo que em um instante sumiu dando lugar novamente à escuridão da noite.

Um bezerrinho encostou-se em seu pastor e este, olhando para o céu, tirou o tecido que lhe cobria a cabeça e apontou para o horizonte dizendo: olhem!

As nuvens começaram a se abrir e por detrás delas uma estrela desconhecida brilhava fortemente. No alto da colina, os pastores divisaram uma pequena caravana com três camelos que rumava na direção daquele astro.

“Vamos até Belém e vejamos o que se realizou e o que o Senhor nos manifestou”, falaram entre si os pastores.

E, assim, naquela noite misteriosa, a luz resplandeceu na Terra ( Jo. 1, 5).


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quarta-feira, 23 de outubro de 2024

O relicário dos três santos Reis Magos na catedral de Colônia

Relicário dos três santos Reis Magos na catedral de Colônia
Relicário dos três santos Reis Magos na catedral de Colônia
Nenhum comentador da adoração prestada ao Menino Jesus pelos três Reis Magos — Gaspar, Melchior e Baltasar — nega que era conveniente eles irem adorá-lo, para representar os vários povos da gentilidade aproximando-se de seu berço desde o começo.

Era conveniente também que fossem magos, para representar toda a sabedoria antiga prestando homenagem ao Menino-Deus.

Sabemos que, naquela época, mago era adjetivo para o homem de uma sabedoria extraordinária.

Eram sábios, os que foram adorar o Messias.

Os três Reis Magos, de várias raças, representaram todo o mundo e toda a sabedoria antiga homenageando Nosso Senhor Jesus Cristo, levando-lhe ouro, incenso e mirra.

Urna dos Três Reis Magos, catedral de Colônia, Alemanha
Urna dos Três Reis Magos, catedral de Colônia, Alemanha
Era um gesto muito simbólico.

Nosso Senhor quis ter representantes daqueles povos, e escolheu quem os representaria em caráter simbólico. Eram só três, mas eles significavam algo nos planos da Providência.

Urna dos Três Reis Magos, catedral de Colônia, Alemanha
Urna dos Três Reis Magos, catedral de Colônia, Alemanha
* * *

Podemos pedir aos Reis Magos que orem por nós — porque certamente estão no Céu junto a Deus.

Para que tenhamos a coragem que eles tiveram: isolados no mundo pagão, à espera da estrela, aguardando a hora de Deus para cumprir Sua vontade com toda a fidelidade.

Devemos nos preparar para essa hora para sermos, também no isolamento, exemplos de fidelidade”.



 

quarta-feira, 9 de outubro de 2024

Fra Angélico 4: Visitantes “transportados” à Idade Média

Luis Dufaur
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Continuação do post anterior: https://joiasesimbolosmedievais.blogspot.com/2012/04/fra-angelico-3-o-santo-confrontado-com.html



Seria esta a sensação da multidão de franceses cujos olhos se colavam às obras ali expostas, como que para se liberar de uma névoa que os impedia de ver tanta virtude?

A cortesia expressa por aqueles personagens e a elegância dos anjos, a suavidade dos reis e o recolhimento dos monges constituiriam uma pausa na vulgaridade de seus dias?

Sentiriam eles falta da certeza tão presente nos gestos humanos e angélicos daqueles quadros?

Entre o relativismo balofo dos atuais dias e aqueles semblantes modelados pela decisão da vontade não optavam os expectadores pela prolongada permanência junto ao Beato?

Por três horas ou mais, silenciosos, recolhidos, eles se deixavam transportar aos tempos da “doce primavera de Fé”.

Se Fra Angélico pudesse observá-los através de um de seus personagens intensamente fixados pelo olhar do público, talvez ele — perspicaz psicólogo — chegasse a imaginar uma fisionomia única do homem padronizado de nossos dias.

E se o Beato devesse fixar essa singular fisionomia em uma de suas pinturas, talvez ele a comporia misturando aos lineamentos fisionômicos do néscio, traços da saudade do que lhes foi negado, de compunção e de aspiração a um retorno...

A exposição apresenta obras de outros pintores, contemporâneos do Beato.

Alguns franceses exercitavam seu senso artístico perguntando-se, diante de cada pintura, se aquela vinha das mãos de Fra Angélico.

Era quase um jogo de discernimento de seu carisma. Atentos, eles procuravam nas pinturas “a marca da beatitude”.

O que é essa “marca”? Certo é que ninguém descreveria tão bem seus quadros quanto ele mesmo.

Mas talvez nem ele próprio pudesse dizer como pode exprimir na face da Mãe de Deus, não só a virgindade, mas também o apreço que Ela tinha por sua condição de Mãe, temperando essas expressões com a recusa de tudo o que não é imaculado!

Rainha dos Anjos, deles Ela é verdadeiramente o arquétipo, superando-os em virtude.

Aos poucos a observação atenta familiariza o observador com aquilo que — mais do que uma técnica ou uma habilidade — é o dom de uma alma santa.

A 556 anos de sua morte, Fra Angélico brilha no firmamento da Igreja como das figuras mais perfeitas que pintou.

Que espanto ao soar inopinadamente a musiquinha sintética de um estridente celular!

Maior espanto em ouvir a resposta da pessoa chamada. De maior desvario daria provas somente alguém que lançasse tinta sobre as asas de um daqueles anjos.

Protestos se levantaram contra aquela ofensa ruidosa ao sagrado. Alívio ao verem o celular fugir da sala.

Olhares indignados se alternaram com observações picantes — tudo à francesa — a respeito da incúria.

Serenou aos poucos o exasperado redemoinho e os espíritos repousaram novamente no século XV, em pleno convento dominicano. Estávamos nesse momento em frente ao “Juízo Final”.

Termina a exposição. Ficam nas almas sementes da eternidade.

Fim

(Autor: Nelson Ribeiro Fragelli, in “Catolicismo”, fevereiro 2012)


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quarta-feira, 25 de setembro de 2024

Fra Angélico 3: o santo confrontado com artistas contemporâneos

Luis Dufaur
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Continuação do post anterior: Fra Angélico 2: veneração pelo dogma movia seus pincéis




O Beato foi praticamente o único pintor em seu gênero.

Seus contemporâneos já estavam contaminados pelo ideal terreno, eminentemente emocional, que dentro em pouco dominaria a Renascença em plena realização.

Zanobi Strozzi, um de seus primeiros discípulos, é um triste exemplo da solidão na qual os contemporâneos deixaram o mestre dominicano.

Em seu célebre quadro sobre Nossa Senhora, o Menino Jesus aparece despido (em todas as eras da Humanidade não se conhece exemplo de mãe que deixe seu bebê despido) enquanto Maria tem o olhar frio e vago, parecendo ignorar o Filho.

Dois anjos músicos ornam a parte inferior do quadro; um deles, o anjo da esquerda, melancólico e sensual, tem semelhança com certas figuras vistas nas ruas de nossas atuais cidades.

Strozzi pintou também o “Cristo do Apocalipse”, cuja expressão dura e impessoal da face e do gesto de mão, imprópria à majestade, contrasta com a mesma cena pintada por Fra Angélico no “Juízo Final”.

Giovanni di Francesco Ravezzano pertenceu à escola de Fra Angélico, embora tardiamente. Também ele quis representar Nossa Senhora com o Menino Jesus, mas sua concepção opõe-se à sutil sensibilidade do Beato.

Seus personagens já não exprimem nem pensamento nem elevação de sentimentos, quando não são sentimentais.

Pinturas como as de Ravezzano contribuíram poderosamente para desviar a fervorosa piedade mariana medieval.

Alguns quadros ou afrescos atribuídos a Fra Angélico por reconhecidos especialistas foram influenciados e até mesmo completados por seus “discípulos”, podendo assim apresentar detalhes contraditórios com o vulto geral de sua obra.

Seu estilo apresenta uma “linguagem pictórica” forjada por intensa vida espiritual e pelo desejo santo de retratar Deus, seus anjos e seus santos de modo a serem mais bem conhecidos e amados.

Seu inconfundível estilo pode ser apreciado particularmente na “Crucifixão”, na representação de “Nossa Senhora no trono”, no afresco sobre a “Anunciação” e no magistral afresco “Apresentação no Templo”, pintado em uma das celas do convento.

A “alma” de seus personagens pode ainda ser percebida numa simples iluminura de um saltério.

Trata-se da letra inicial do Salmo 52: “Disse o néscio em seu coração: Não há Deus. Perverteram-se, tornaram-se abomináveis...”

Com riqueza de detalhes a iluminura retrata o néscio — espírito precipitado e temerário —, voltado para os aspectos terrenos da existência, carente de elevação moral.

Um olhar mesmo fugaz desta iluminura despertaria imediatamente, em quem tinha o saltério nas mãos recitando os Salmos, uma santa repulsa por essa posição do espírito.

Pinturas de sobrenaturais virtudes da alma

Durante a visita ao Museu Jacquemart-André aprende-se que na biografia do Beato escrita pelo célebre Giorgio Vasari, o autor “insiste na particularidade de que o pintor parece ‘sair do paraíso’”.

A afirmação deste especialista se compagina a outra, de Plinio Corrêa de Oliveira, segundo a qual Deus, ao criar as maravilhas da natureza, deu-nos a tarefa de as completar.

Assim, muitas obras dos homens podem ser mais belas do que as da natureza, pois enquanto filhos de Deus os homens podem comunicar à sua obra algo de sua alma, a qual tem belezas inexistentes no mundo da natureza irracional.

A obra-prima de um pintor consiste em tomar aspectos da natureza — ou cenas da História Sagrada, no caso de Fra Angélico — comunicando a ela reflexos de sua alma habitada pelo sobrenatural.

Vê-se que o Beato Angélico uniu aspectos superiores de sua alma ao objeto de suas pinturas.

Ele mesmo fabricava suas tintas com safiras e rubis triturados, óleos especiais, resinas de utilização até então desconhecida.

E assim ele trouxe à luz aspectos recônditos da natureza e das almas, da felicidade temporal e dos vislumbres da glória eterna.

Suas tintas impregnaram telas e painéis de sobrenaturais virtudes de sua alma.

Quem contempla seus quadros tem a agradável sensação de estar em presença de realidades evidentes, conhecidas de todos, mas que convidam a um aprofundamento na medida em que uma luz suave emanando daquelas cores sugere traços transcendentais cujo conhecimento seria uma descoberta.

Em certo momento não se sabe o que mais atrai, se é a pintura ou a alma do Beato. Pode-se distinguir uma da outra?




(Autor: Nelson Ribeiro Fragelli, in “Catolicismo”, fevereiro 2012)


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