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quarta-feira, 19 de junho de 2024

Símbolos Papais requintados na Idade Média

Anel do Pescador que foi de Bento XVI.
Anel do Pescador que foi de Bento XVI.
Luis Dufaur
Escritor, jornalista,
conferencista de
política internacional,
sócio do IPCO,
webmaster de
diversos blogs




No post “Símbolos dos Papas tomaram forma final na Idade Média”, apresentamos a contribuição que a “Doce primavera da Fé” deu para a criação ou definição de certas insígnias dos Papas.

Essas insígnias não correspondem a uma época, mas a todas as épocas e provêm de ensinamentos evangélicos ou da Tradição da Igreja.

Neste post trataremos de outras insígnias e da parte que a Era Medieval teve em sua elaboração.

O Anel do Pescador é dos mais importantes símbolos. Consiste num anel de ouro no qual está gravada a Barca de Pedro, símbolo da Igreja, e em volta, o nome do Papa que o está usando.

A primeira menção documentada ao Anel está contida numa carta do Papa Clemente IV de 1265. Nela, o Pontífice dizia que era costume dos sucessores de Pedro muito anteriores a ele, manter sigilosas suas cartas.

Isto se fazia através de um pouco de cera quente no fim do texto ou para fechar o envelope. O Papa aplicava então o Anel, que deixava cunhado seu nome e a Barca.

Férula, originalmente do Beato Pio IX.
Férula, originalmente do Beato Pio IX.
Depois passou a ser usado em todos os documentos oficiais da Igreja, que são conservados no Vaticano.

Cada Anel do Pescador é destruído pelo Cardeal Camerlengo da Santa Igreja Romana assim que se constata a morte do Papa.

A destruição simboliza o fim da autoridade do Papa falecido, e impede que algum outro venha a utilizá-lo indevidamente.

A Férula é usada pelos Papas em lugar do báculo pastoral dos bispos e abades mitrados. Enquanto o báculo, que lembra um cajado de pastor, indica a autoridade na diocese ou na abadia, a Férula, que tem forma de Cruz, indica a jurisdição universal do Papa.

A Férula já era usada nos primórdios da Idade Média. No auge desta, era recebida pelo novo Papa como símbolo de governo, que inclui a punição e a penitência.

A Sedia Gestatória é um trono portátil levado por 12 homens chamados de sediários ou palafreneiros, que vão vestidos de vermelho com ornatos de ouro.

A Sedia Gestatória é acompanhada por dois assistentes que levam os Flabelli, ou flabelos, grandes leques de pena de avestruz que remontam ao século IV.

Os flabelli eram usados pelos magnatas da Antiguidade e nasceram com uma finalidade muito prática: afastar insetos; mas depois permaneceram, pelo seu valor decorativo e pela manifestação da altíssima dignidade do Pontífice.

A mais antiga referência à Sedia Gestatória remonta ao ano 521 e era também reminiscência dos antigos reis. Hoje é certo que ela vinha sendo usada antes do ano 1.000.

Pálio pontifício.
Pálio pontifício.
O Papa também usa o Pálio sobre os paramentos litúrgicos, na Missa ou em outras cerimônias.

Trata-se de uma rica fita circular da qual descem duas faixas de 30 cm, uma pelo peito e outra pelas costas.

O Pálio é ornado com seis cruzes pequenas, vermelhas, para lembrar o Preciosíssimo Sangue derramado na Redenção, e é preso por três agulhas de ouro, que evocam os pregos com que Jesus foi crucificado.

Também os arcebispos usam o Pálio, embora mais simples. Os bispos dos ritos orientais católicos usam-no com mais ornato.

Outra insígnia exclusiva é o Fanon, pequena capa de ombros, como uma dupla murça (mozeta) ou camalha de seda branca com listras douradas.

O Fanon, ou Fano, é reservado somente ao Papa durante as Missas pontificais e representa o escudo da fé que protege a Igreja Católica, personificada no Papa.

Só o Sumo Pontífice, chefe visível da Igreja de Cristo, pode usar o Fanon.

As faixas verticais, de cor dourada, representam a unidade e a indissolubilidade da Igreja latina e oriental. O Fano já era usado no século VIII, porém ficou exclusivo do Papa a partir do fim do século XII.

Sedia Gestatoria, se destacam os fiabelli
O sub-cinctorium, ou succintório, ou subcíngulo, só é usado pelo Papa nas Missas pontificais. Consiste numa faixa estreita e comprida, decorada nas extremidades com uma cruz e um cordeiro, pendendo do lado esquerdo.

Mencionado pela primeira vez no século X, na Idade Média o subcíngulo podia ser usado pelos bispos, e era dotado de uma bolsa com esmolas para distribuir aos pobres. Evoca também a toalha usada por Jesus na Última Ceia para lavar os pés dos Apóstolos.

Embora não tenham sido abolidos, esses símbolos deixaram de ser usados hoje –numa época em que paradoxalmente tanto se fala dos pobres e da pretensa humildade de tantos prelados.

Manto, no quadro usado por S.S. Pio VII na Capela Sistina
O Manto é uma capa muito larga, exclusiva do Papa. Originariamente era vermelha e depois passou a acompanhar as cores litúrgicas. Quando o Papa usava a Sedia Gestatória, portava o Manto.

A primeira referência ao uso do Manto remonta à Divina Comédia de Dante Alighieri, no século XIII.

O Manto é muito maior que o Papa, que ao sentar-se no trono coloca seus pés sobre ele, enquanto os assistentes o espraiam sobre os degraus do trono. Indica a superioridade absoluta do Papa. Bispos e outros dignitários podiam usar mantos menores.

O Manípulo Papal é semelhante aos usados por bispos e padres, com a diferença de que os fios que o unem são dourados e vermelhos, para simbolizar a união das igrejas católicas, ou ritos católicos do Oriente e do Ocidente. É usado na liturgia desde o século VI.

Cabe mencionar o “umbraculum” ou umbrela, rico guarda-chuva de cor dourada e vermelha que os Papas usavam para se proteger do sol. Era prerrogativa exclusiva dos reis e simbolizava o poder temporal do Papado. Teria sido instituído por Alexandre VI, na transição da Idade Média para a Renascença.

É símbolo da vacância do Papado. Atualmente é usado no escudo de armas do Cardeal Camerlengo, que administra a Igreja durante a vacância do Trono de Pedro entre a morte de um Papa e a entronização do seguinte.

Esta insígnia constitui também privilégio das basílicas, sendo habitualmente exposta junto ao altar-mor ou em procissões.


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